Quem sou eu

Minha foto
Bacharel em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda - pela Usp. Período em que trabalhou como designer e professora de artes gráficas. Mestra em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp. Contou com apoio da Fapesp para sua pesquisa, que versa sobre os procedimentos artísticos modernos e contemporâneos, sobretudo no que diz respeito à colagem. Atua paralelamente como curadora independente.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Modigliani: imagens de um fiasco no Masp

No ano do Brasil na Itália, grandes exposições deste país estão vindo desfilar em algumas de nossas cidades. 

Duas dessas exposições - Roma e De Chirico: o sentimento da arquitetura - trazidas pela Fiat tiveram uma boa qualidade - tanto nas obras selecionadas quanto na expografia apresentada.

A terceira deste ciclo de exposições - Modigliani: imagens de uma vida - é lamentável e seria preferível que não tivesse vindo ao país. Isso porque, não se trata de uma exposição dos trabalhos de Amadeo Modigliani, e sim de um compêndio de esboços, obras de outros artistas, réplicas, etc. 

Obras do grande pintor italiano são pouquíssimas. Pertencentes a sua fase representativas como artista moderno, duas ou três, sendo uma delas a divulgada já no folheto da exposição. 

A explicação da curadoria é de que se buscou retratar a intimidade do pintor e a atmosfera em que vivia, como pode-se ler no trecho abaixo:


"Na mostra, esta intimidade vem à tona no diário de sua mãe, em cartas trocadas com amigos como Pablo Picasso, André Derain, Max Jacob e Léonard Foujita e nas fotos de seu ateliê, de suas modelos e dos lugares onde viveu.
Outro destaque são as 22 obras produzidas pela mulher e amigos de Modigliani, que contribuem para contextualizar o profícuo período vivido pelo artista. São três óleos de sua esposa Jeanne Hébuterne, uma gravura de Picasso, outra de Foujita, pinturas feitas a quatro mãos com Moïse Kisling, além de peças de Marevna, Jacob e outros."


Qualquer pessoa mais atenta pode perceber que o que houve foi um uso publicitário da arte italiana para fazer propaganda das instituições promotoras do evento.  A exposição deveria ter no mínimo um título que não levasse o público a expectativa de ver uma mostra significativa de Modigliani.

Outro fator que ficou evidente nesta mostra foi a crise econômica européia. A exposição foi de uma montagem que economizou mais recursos do que deveria, com muito mais textos impressos nas paredes do que pinturas ou esculturas. 

A deselegância de uma atitude dessas é ainda maior quando se pensa que a escolha em trazer uma série de eventos culturais que divulguem um país no exterior - neste caso a Itália no Brasil -  reflete o interesse em se valer da prosperidade econômica e imagética de um país emergente por um país de primeiro mundo em franca decadência, acreditando-se que qualquer bem cultural  europeu será aqui venerado e admirado independente de sua qualidade estética.


terça-feira, 5 de junho de 2012

Educativo XXX Bienal de São Paulo

Nos últimos meses, a Fundação Bienal de São Paulo tem feito ampla divulgação do seu serviço educativo. São palestras em escolas, universidades e museus que tem por objetivo  introduzir os conceitos da arte contemporânea a um público formado sobretudo por professores do ensino formal.

O educativo da instituição visa também ampliar o número de visitantes às exposições e fazer com que o conteúdo das visitas possam ser trabalhados em sala de aula, ampliando o repertório e entendimento dos alunos de um tema distante para a maioria deles.

Desde a última edição da Bienal de São Paulo, em 2010, o educativo, que mudava a cada edição do evento, passou a ser fixo, tendo em vista um trabalho contínuo de formação de público e de educadores.

A frente desta equipe encontra-se a educadora Stela Barbieri, profissional renomada, com trabalho reconhecido no Instituto Tomie Ohtake

Outra novidade é que o serviço educativo passou a ser nomeado Curadoria Educacional, uma forma de dar importância ao processo de seleção de obras também durante sua apresentação orientada ao público.

Os jovens educadores selecionados para a XXX Bienal de São Paulo passarão por meses de treinamento, conhecendo ateliês de artistas, visitando comunidades de onde provem parte dos alunos de escola pública, percorrendo diversas exposições e assistindo a palestras. Esta é uma tentativa de fazer com que seu conhecimento a respeito dos trabalhos mostrados na exposição tenha um maior embasamento, evitando a superficialidade usual em suas apresentações, que acaba diminuindo o interesse do público sobre as obras apresentadas e as possíveis discussões a este respeito.

Eu assisti a duas das palestras ministradas pela Stela Barbieri no mês passado, uma no Instituto de Artes da Unesp e outra no Masp. 

Além da qualidade de seu discurso na apresentação do tema da exposição, dos vídeos do curador, etc, foi interessante notar a importância que ela dá à poética também na formação de professores. 

Na primeira das palestras, trouxe o artista Nino Cais para falar sobre sua pesquisa artística, o que muito me alegrou por  conhecer o Nino, tê-lo entrevistado e ver que seu trabalho estará presente nesta importante mostra de arte contemporânea. Na segunda palestra, houve um trabalho feito em grupo, em que nós, plateia, interagíamos com peões rodopiando.

Enfim, ao que parece o Educativo da Bienal tem tudo para se tornar um projeto piloto nos serviços educativos no Brasil, pois os trabalhos que vemos por aqui ainda são bastante precários em comparação com o que acontece em grandes museus do mundo. E, se o Brasil pretende ser um pólo de arte contemporânea - o que já esta acontecendo pelo menos no mercado de arte, vide a SPArte - é preciso lembrar que um centro cultural tem que ter como preocupação primordial a educação e não apenas o consumo de bens culturais.

Corpos Presentes no CCBB

Não é à toa que o CCBB figurou entre as instituições mais visitadas de um ranking internacional do The Art Newspaper que mensurou o público de diversas exposições temporárias ao redor do mundo.


A exposição O mundo mágico de Escher no CCBB/RJ, por exemplo, bateu o recorde de público com mais de 9 mil visitantes por dia.


Claro que a utilização da mídia para divulgação dos eventos e a gratuidade são fatores que se deve levar em conta ao pensar nesse aumento significativo de público, mas isso não explica totalmente o fenômeno


Com poucas exceções nos últimos anos,  o que tenho visto nos trabalhos apresentados pela instituição são montagens de excelente qualidade, inéditas no Brasil e que sabem mesclar interatividade com conteúdo, sem serem superficiais ou massantes


Assim, temos, cada vez mais, acesso inédito a grandes nomes da arte contemporânea internacional, sem sairmos de nosso próprio país. Além disso,  há cursos,  debates, catálogos disponíveis para download e vivências que aproximam o público do universo do artista


É o que acontece até 15 de julho com as obras de Antony Gormley em Corpos Presentes no CCBB/SP



Ao artista inglês interessam duas questões: o corpo e sua relação com o espaço. Por isso, vale a pena ver não somente as obras de ferro fundido em tamanho real - réplicas do corpo do próprio autor - amontoadas pelo prédio e espalhadas pelo centro da cidade, como também seus modelos em materiais e tamanhos diversos dispostos no subsolo

O vídeo exibido no segundo andar dá ainda uma noção da grandiosidade de alguns de seus trabalhos e do demorado e complexo processo de criação que os envolvem.  

Pelo que observei num dia de semana em plena hora do almoço, creio que esta exposição também tem tudo para ser um sucesso de público

Vi trabalhadores do centro da cidade - engravatados ou não - deslumbrados com o realismo das esculturas já na entrada do prédio, tocando na obra por pensarem ser estátuas vivas. O deslumbre cresceu ainda mais diante do paradoxo encontrado: a leveza daqueles corpos tão pesados dependurados no teto. 

Antony Gormley: Corpos Presentes
Rua Álvares Penteado, 112 - Centro
Terça a domingo, das 9h às 21h

Sobre a crítica de arte

Nos últimos eventos de que tenho participado, os palestrantes vem repetindo um pensamento a respeito da crítica de arte contemporânea: sua atual ausência no Brasil. 

No I Encontro de Pensamento e Reflexão na Fotografia, evento que fez parte da programaçao do Maio: fotografia no MIS, este foi um dos assuntos abordados. 

O Prof. Dr. Rubens Fernandes Junior (FAAP/SP), na palestra  Um passeio pelo pensamento crítico na Fotografia Brasileira, ressaltou que este fenômeno  se deve ao fato de que o crítico de arte tornou-se simultaneamente curador. Em outras palavras, é o curador quem escreve o texto sobre a exposição que ele mesmo organiza, substituindo a crítica pela propaganda.

Assim,  o que a mídia tradicional publica nada mais é do que um realese. E a crítica de arte fica restrita ao âmbito acadêmico, não ressoando com muito efeito sobre o público que frequenta,  ou poderia frequentar,  as exposições.

A Profa. Renata  Sant'Anna,  especialista em arte-educação,  no curso Saber e Ensinar Arte Contemporânea,  promovido pelo MAC/USP também tocou neste assunto em um dos encontros. Durante a visita guiada pela exposição Modernismos no Brasil tratamos da articulação do fazer artístico dos anos 1920 até 1960 e a crítica na mídia impressa.


Tivemos casos famosos como o repúdio de Monteiro Lobato aos trabalhos de Anita Malfatt i (precedentes à Semana de 22). Seus quadros foram atacados no artigo Paranóia ou Mistificação? publicado no Estado de São Paulo e tiveram grande repercussão.




Mais adiante na história, temos os movimentos Concretista (1958) e Neo-concretista (1959) que tiveram seus manifestos publicados em periódicos de grande circulação, suscitando debates, confrontos e discussões.


O relacionamento com a mídia era forte a ponto de um dos artista do grupo,  carioca Amilcar de Castro, ter liberdade para redesenhar o layout do suplemento de domingo do Jornal do Brasil.





A questão é que o espaço da crítica foi sendo reduzido e, agora nos anos 2000, o mercado dominou abertamente a mídia, cooptando aqueles que poderiam criticá-lo


Que saída teremos? Talvez a internet, as redes sociais? Mas qual o alcance dessa nova mídia para reflexão e formação de público,  se a maior parte dela é usada para divulgação de produtos, modismos e celebridades instantâneas aos moldes da mídia eletrônica tradicional