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Bacharel em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda - pela Usp. Período em que trabalhou como designer e professora de artes gráficas. Mestra em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp. Contou com apoio da Fapesp para sua pesquisa, que versa sobre os procedimentos artísticos modernos e contemporâneos, sobretudo no que diz respeito à colagem. Atua paralelamente como curadora independente.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

O marketing da loucura na arte de Yayoi Kusama

Instalação Infinita Sala de Espelhos - Plena do Brilho da Vida


Ontem, 20/07, fui ao Instituto Tomie Ohtake, visitar a exposição Obsessão Infinita. Após quase 3h de espera, consegui finalmente adentrar ao prédio para ver as obras da artista Yayoi Kusama, nesta que é sua primeira grande mostra na América Latina.

A exposição trouxe uma quantidade significativa de trabalhos, cerca de 100 obras, traçando um panorama de toda a trajetória de Kusama desde o pós-guerra. Destacando-se, em relevância do material apresentado, as instalações e as recentes pinturas.

Pinturas presentes na Exposição


Senti falta de um número maior de instalações e de performances - fossem estas últimas remontadas ou em registro.

A despeito de tudo isso, o que me intrigou foi a necessidade constante de  utilização da doença psiquiátrica da artista como justificativa de sua obra. Assim como a divulgação da exposição na mídia, os textos da curadoria insistiram em mencionar sua internação voluntária em clínica psiquiátrica e sua obsessão por formas circulares. 

Inegavelmente - visto o número de visitantes -  o estereótipo do "artista louco" funciona como boa tática de marketing, atraindo olhares e despertando curiosidade. Mas até que ponto a persistência de esteriótipos, e dos preconceitos subsequentes, na arte é positiva para o artista e para o público?

Retrato da artista Yayoi Kusama em instalação


Obviamente não quero negar a existência de tal obsessão, pois ela está mais do que evidenciada nas obras apresentadas e é parte constitutiva da artista que as produziu. Contudo, reduzir universo de Yayoi Kusama a um distúrbio mental é, em minha opinião, menosprezar sua poética e sua subjetividade.

Também temas que perpassam a obra da artista japonesa poderiam ter sido melhor discutidos, levando a uma reflexão mais profunda e construtiva. Dentre as possibilidades que enxerguei nos trabalhos exibidos estavam a questão da mulher no universo da arte pop, a repressão da sexualidade feminina, a imposição de padrões de pensamento e comportamento na vida em sociedade, as fronteiras entre arte, moda e design na arte contemporânea.

Mesmo a questão da obliteração - conceito que aparece em vários dos tragmentos de textos da curadoria nas paredes - é pouco trabalhado no projeto expositivo.

Sendo assim, minha opnião é a de que a maior justificativa para o tamanho da fila enfrentada para ver a exposição  está, além de nas formas de fácil assimilação presentes na obra de Yayoi Kusama, nas ferramentas de divulgação utilizadas, que transformaram a exposição em um grande espetáculo. E este espetáculo tornou-se claro na rapidez com que as pessoas passavam pelos trabalhos, apenas fotografando-os e fotografando-se diante deles, como forma de dizer "Eu fui!".


Obsessão Infinita - Yayoi Kusama
QUANDO: de 22/05 a 27/07
Terças, Quartas, Quintas, Sextas, Sábados e Domingos das 11:00 às 20:00
QUANTO: Gratuito
Rua Coropés, 88 - Pinheiros - Oeste