No ano do Brasil na Itália, grandes exposições deste país estão vindo desfilar em algumas de nossas cidades.
Duas dessas exposições - Roma e De Chirico: o sentimento da arquitetura - trazidas pela Fiat tiveram uma boa qualidade - tanto nas obras selecionadas quanto na expografia apresentada.
A terceira deste ciclo de exposições - Modigliani: imagens de uma vida - é lamentável e seria preferível que não tivesse vindo ao país. Isso porque, não se trata de uma exposição dos trabalhos de Amadeo Modigliani, e sim de um compêndio de esboços, obras de outros artistas, réplicas, etc.
Obras do grande pintor italiano são pouquíssimas. Pertencentes a sua fase representativas como artista moderno, duas ou três, sendo uma delas a divulgada já no folheto da exposição.
A explicação da curadoria é de que se buscou retratar a intimidade do pintor e a atmosfera em que vivia, como pode-se ler no trecho abaixo:
"Na mostra, esta intimidade vem à tona no diário de sua mãe, em cartas trocadas com amigos como Pablo Picasso, André Derain, Max Jacob e Léonard Foujita e nas fotos de seu ateliê, de suas modelos e dos lugares onde viveu.
Outro destaque são as 22 obras produzidas pela mulher e amigos de Modigliani, que contribuem para contextualizar o profícuo período vivido pelo artista. São três óleos de sua esposa Jeanne Hébuterne, uma gravura de Picasso, outra de Foujita, pinturas feitas a quatro mãos com Moïse Kisling, além de peças de Marevna, Jacob e outros."
Qualquer pessoa mais atenta pode perceber que o que houve foi um uso publicitário da arte italiana para fazer propaganda das instituições promotoras do evento. A exposição deveria ter no mínimo um título que não levasse o público a expectativa de ver uma mostra significativa de Modigliani.
Outro fator que ficou evidente nesta mostra foi a crise econômica européia. A exposição foi de uma montagem que economizou mais recursos do que deveria, com muito mais textos impressos nas paredes do que pinturas ou esculturas.
A deselegância de uma atitude dessas é ainda maior quando se pensa que a escolha em trazer uma série de eventos culturais que divulguem um país no exterior - neste caso a Itália no Brasil - reflete o interesse em se valer da prosperidade econômica e imagética de um país emergente por um país de primeiro mundo em franca decadência, acreditando-se que qualquer bem cultural europeu será aqui venerado e admirado independente de sua qualidade estética.