Desde o início de fevereiro o Mis - Museu da Imagem e do Som - apresenta a exposição Ai Weiwei Interlacing, que se propôs a "dar uma dimensão da criação visual de Ai Weiwei, artista chinês considerado um dos mais influentes na arte contemporânea atual".
Outro objetivo da exposição era "mostrar o caráter multifacetado do artista, marcado pelo ativismo social e pela criação de redes que entrelaçam arte e vida".
Logo no início do período da mostra, fui até o museu conferi-la. Embora estivesse com bastante expectativa para ver de perto seus trabalhos, o desapontamento com a mostra minou meu ânimo para comentá-la.
Passados dois meses, no entanto, li o artigo intitulado Contribuições para uma reflexão crítica sobre a Bienal de São Paulo no contexto da globalização cultural, de Vinicius Spricigo. Este sim me motivou a refletir sobre a exposição citada.
O artigo, muito interessante, faz parte da primeira edição do Periódico Permanente, revista do famoso Fórum Permanente.
O texto relata, entre outras coisas, as iniciativas institucionais de trazer ao Brasil obras de artistas não-pertencentes ao eixo Estados Unidos-Europa. Trata de tentativas nacionais de apresentar um panorama mais amplo da arte contemporânea (que se diz globalizada, mas exclui produções de uma boa parte das produções dos habitantes do globo).
Fiquei pensando na importância que teria uma exposição como Ai Weiwei Interlacing, caso se propusesse a ser uma experiência no sentido que aponta o autor do artigo.
O que me decepcionou na mostra foi o fato de que um artista como este, que vive há anos arriscando a própria vida, num combate individual que é sua expressão artística dentro da ditadura chinesa, tenha sido confinado em paredes brancas, quase esterilizadas de tanta falta de pulsação viva.
Um artista da ação, restrito a documentações instaladas em salas cansativas, repletas de fotos e vídeos.
Nada de performance, nada de sua presença real. Tudo que estava presente no Mis poderia ter sido visto no youtube ou por fotos buscadas no Google.
Nada de performance, nada de sua presença real. Tudo que estava presente no Mis poderia ter sido visto no youtube ou por fotos buscadas no Google.
Se não puderam trazer o artista, fazer o que? Que ao menos tentassem refazer algumas de suas performances, como foi a exposição comemorativa da obras de Marina Abramovic, que virou até material de documentário.
Se não isso, que pedissem a ele projetos de ações inéditas. Estas poderiam ser desenvolvidas por outros artistas brasileiros de renome na arte contemporânea.
Mas, se nada disso fosse possível, que não fizessem tanto alarde sobre a exposição, que não a transformassem em material para marketing, como tem sido com diversas mostras internacionais neste país.